quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ônibus de motores dianteiros mostram que em geral, o estilo de mobilidade no País vai mudar pouco

Apostas da Volvo e da Mercedes Benz é a suspensão pneumática. Scania oferece gerenciamento elétrico das funções dos veículos.
ADAMO BAZANI – CBN
Mobilidade Urbana…. Priorização do Transporte Coletivo….PAC da Mobilidade…Qualidade dos Ônibus …. Corredores BRT – Bus Rapid Transit, que são do tipo do sistema de Curitiba e mais modernos que os corredores normais.
“Nunca antes na história deste País” se comentou tanto sobre mobilidade urbana. E querendo ou não admitir, esse movimento começou depois de o Brasil ser escolhido para sediar os eventos internacionais como Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas Rio 2016. Pois enquanto o povo brasileiro era tratado (e é) como sardinha em lata e as empresas de ônibus viam seus custos crescerem com os veículos de transportes coletivos sem nenhuma prioridade no espaço urbano, estava tudo bem. Afinal, o que importa o povo que paga tantos impostos e as empresas que geram empregos? Parece que para o poder público, nada! Mas quando o atraso dos transportes iria resvalar na tal imagem internacional do Brasil e ia ter muito “gringo” transformado em sardinha em lata no País, aí o Governo Federal se preocupou como nunca.
O PAC Mobilidade inicialmente foi para as cidades sede. Mas os municípios são interligados e não ficaria nada positivo para a tal imagem política apostar na mobilidade destas cidades somente.
Ao mesmo tempo, verifica-se uma série de manifestações, algumas, é verdade, que perderam o foco, que teve como estopim as tarifas e a qualidade baixa em geral dos transportes coletivos.
Aí, tudo que estava lento foi acelerado. O PAC não estava mais acelerando o crescimento. Após as manifestações presidente Dilma arrumou R$ 50 bilhões a mais para Mobilidade Urbana.

MOTIVOS PARA COMEMORAR?

Sim e não. O maior envolvimento do Governo Federal nos transportes (algo que deveria ser uma obrigação cumprida há anos e, sem defender o regime, na época ) vai ajudar e muito na modernização dos sistemas de transportes.
Mas convenhamos. No universo de 5 mil 565 municípios brasileiros, os 1 mil 500 quilômetros de corredores de ônibus com 9 mil veículos novos e as 2 mil composições novas de trens previstos até 2014 só vão contemplar os principais centros econômicos e olhe lá.
Quer um termômetro para isso? A indústria.
A indústria nacional de ônibus é uma das melhores do mundo, possui soluções para todas as necessidades, emprega e paga impostos. Mas a indústria de ônibus não é boba. O que ela sabe fazer é analisar o mercado e criar perspectivas.
E quando vemos grandes companhias como Mercedes Benz, Volvo e Scania, por exemplo, investirem ainda em ônibus com motores dianteiros, com mais modernidade, podemos analisar que o perfil dos transportes não vai mudar como o passageiro precisa.
Não que o ônibus de motor dianteiro seja o vilão da história. Apesar de não ser tão confortável como os veículos de piso baixo, motores traseiro e central, o que seria do País sem o ônibus de motor dianteiro? Simplesmente não teria transportes. A grande maioria do transporte urbano no País é feito neste tipo de ônibus.
Os motivos são vários, mas podem-se destacar dois fundamentais: a falta de estrutura do País e a cultura de investimentos do empresário.
Sabe-se que por mais que o empresário tem se modernizado (a maioria, pois existem SIM os donos de viações que acham que ainda operar transportes é manter carroças nas ruas e comprar prefeitos – seja em campanhas eleitorais ou mesmo durante os mandatos).
O empresário quer lucrar mais com o menor investimento possível. E é certo que os ônibus de motor dianteiro são mais econômicos e de manutenção mais fácil.
Não bastasse isso, de fato é interesse das prefeituras, estados e Governo Federal investirem em transportes?
Sabe outro motivo de o motor dianteiro ainda ser alvo de investimentos das montadoras? Por que na prática, de uma maneira geral, tirando as exceções dos grandes centros urbanos, a mobilidade no Brasil VAI CONTINUAR A MESMA POR MUITOS ANOS.
E para enfrentar ruas cheias de buraco, mal planejadas, com valetas e lombadas que nem as estradas romanas de antes de Cristo possuíam, estradas de terra, os ônibus têm de ser tratorzinhos robustos que transportam passageiros.

MODERNIZAR O MOTOR DIANTEIRO

Mesmo assim, a indústria prova que é possível modernizar o ônibus de motor dianteiro e oferecer mais conforto.
É o que na Transpúblico 2013, feira de transportes realizada até esta sexta-feira no Transmerica Expo, na zona Sul de São Paulo, foi mostrado pelas fabricantes de chassis de ônibus.
Mercedes Benz e Volvo apostam na suspensão pneumática e a Scania no gerenciamento eletrônico.
Os modelos da Mercedes Benz OF 1721L/59 Euro V e OF 1724L/59 Euro V já possuem suspensão pneumática integral, que oferecem mais conforto para o motorista, cobrador e passageiros que os veículos dotados apenas de molas.
Cerca de 500 unidades já foram vendidas para linhas alimentadoras em Minas Gerais.
Ônibus de motor dianteiro da Mercedes Benz. Fabricante já vende dois modelos com suspensão pneumática integral. Sinal de que pela cultura do empresário e as condições operacionais difíceis do Brasil, a mobilidade pouco vai mudar em todo o País. Foto: Adamo Bazani.
Ônibus de motor dianteiro da Mercedes Benz. Fabricante já vende dois modelos com suspensão pneumática integral. Sinal de que pela cultura do empresário e as condições operacionais difíceis do Brasil, a mobilidade pouco vai mudar em todo o País. Foto: Adamo Bazani.
De acordo com a Mercedes Benz, “a suspensão pneumática dos chassis OF é formada por bolsões de ar (2 na dianteira e 4 na traseira) e batentes auxiliares, válvulas niveladoras de altura (1 na dianteira e 2 na traseira), amortecedores telescópicos de dupla ação e barras estabilizadoras”.
O responsável por ônibus da Mercedes Benz, na América Latina, Ricardo José da Silva, diz que a suspensão pneumática revela uma nova fase do mercado.
As empresas de ônibus precisam oferecer conforto nas atuais condições de trafegabilidade. E a suspensão pneumática no ônibus de motor dianteiro permite isso, mas dentro da realidade de custos das empresas, cuja boa parte opera ainda em condições de tráfego severas” – disse o executivo.
A Volvo, por sua vez, também vai apostar na suspensão pneumática no motor dianteiro.
A empresa que desde sua implantação no Brasil não comercializava ônibus com motor dianteiro, na Transpúblico de 2011 lançou o B 270 F e sentiu o “gostinho” do segmento, que corresponde a 40% do mercado nacional.
Suas vendas cresceram e a empresa ultrapassou concorrentes em números absolutos por causa do B 270 F.
A Volvo também verifica que o motor dianteiro terá longa vida no mercado, o que traça o perfil da mobilidade para o futuro. Por isso, até o final do ano, deve ter nas ruas em operação o B 270 F com suspensão pneumática integral. Foto: Divulgação.
A Volvo também verifica que o motor dianteiro terá longa vida no mercado, o que traça o perfil da mobilidade para o futuro. Por isso, até o final do ano, deve ter nas ruas em operação o B 270 F com suspensão pneumática integral. Foto: Divulgação.
Até setembro, as primeiras unidades do B 270 F com suspensão pneumática devem estar operando comercialmente nas ruas. Alguns ônibus já vão rodar antes em empresas do Sul do País que são parceiras da Volvo, a título de testes, depois, claro, de todas as homologações das autoridades.
Com a suspensão pneumática, a ideia da Volvo é diminuir os níveis de impacto, de vibração e de ruídos típicos dos trajetos percorridos pelos ônibus de motor dianteiro.
O custo de aquisição destes ônibus deve ser maior, mas a empresa garante que os gastos de manutenção serão menores.
A figura do moleiro na garagem é indispensável e mostra como é complexa a manutenção dos ônibus com suspensão metálica. Às vezes é preciso trocar toda a mola, refazer parte da suspensão. A manutenção é mais fácil na suspensão pneumática e rápida também. Basta trocar bolsões ou alguns componentes. O ônibus fica menos tempo parado na garagem e quanto maior o índice de disponibilidade do veículo, maior é a rentabilidade da empresa, assim como melhor é o atendimento ao passageiro” – disse Idam Stival, engenheiro de vendas da Volvo Latin America.
Precisamos atender a tudo que as empresas e passageiros precisam. Assim, temos o maior ônibus do mundo, o biarticulado de 28 metros encarroçado, ônibus urbanos de piso baixo, ônibus rodoviários mais simples e até de quatro eixos para carrocerias de dois andares de alto padrão, mas o mercado de motor dianteiro é grande e é a realidade do mercado nacional. Podemos cada vez mais desenvolver ônibus deste tipo mais confortáveis, econômicos e seguros” – disse Euclides Castro, gerente de ônibus urbanos da Volvo Latin America.
Outra prova de que o motor dianteiro é um tipo de ônibus com vida longa no Brasil foi o estande da Scania. A empresa que intensificou ainda mais suas operações neste mercado dedicou boa parte do seu estande ao segmento.
A aposta da empresa é o gerenciamento eletrônico para oferecer conforto e diagnóstico de eventuais problemas para permitir que o defeito seja detectado logo e não se agrave, permitindo que o ônibus fique menos tempo parado na vala de manutenção.
A Scania também sabe da longevidade do motor dianteiro no contexto real de transportes de passageiros do País para o futuro. Gerenciamento elétrico para diagnosticar cedo eventuais problemas e facilitar manutenção, deixando o ônibus menos tempo parado, é um dos diferenciais.  Foto: Divulgação.
A Scania também sabe da longevidade do motor dianteiro no contexto real de transportes de passageiros do País para o futuro. Gerenciamento elétrico para diagnosticar cedo eventuais problemas e facilitar manutenção, deixando o ônibus menos tempo parado, é um dos diferenciais. Foto: Divulgação.
O modelo F 250 NZ 4 x 2 é conhecido pela robustez. Ele foi lançado em outubro de 2012 e possui motor 9 litros, 250 cavalos de potência e desenvolve torque de 1.150 Nm.
De acordo com a Scania, um dos diferenciais do modelo é sistema elétrico/CAN “que gerencia todas as funções do veículo, permite sempre o melhor desempenho na operação e maior facilidade de manutenção. Esta característica apresentada pela nova arquitetura dos produtos garante um rápido diagnóstico de falhas, o que aumenta ainda mais a disponibilidade do veículo. O chassi sai de fábrica com distância entre eixos de 6.500mm. Essa configuração permite comportar carrocerias de 12,6 até 13,2 metros de comprimento, o que proporciona grande capacidade de passageiros, sem perda de rendimento. As suspensões dos eixos dianteiro e traseiro são a mola. Para garantir maior conforto ao motorista, o modelo possui coluna de direção ajustável. Um dos itens do pacote de opcionais é o freio ABS
Segundo o gerente executivo de vendas de ônibus no Brasil, Wilson Pereira, a própria evolução dos BRTs e a ampliação dos corredores também vão aumentar a demanda por ônibus de motor dianteiro por causa da criação de linhas alimentadoras.
Existe a perspectiva de uma grande demanda por veículos alimentadores e articulados para os corredores exclusivos para ônibus em virtude dos futuros grandes eventos esportivos, Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro” – explicou ao dizer que mesmo com os avanços da mobilidade, haverá sempre espaço para o ônibus de motor dianteiro.
Indústria entende de mercado, pesquisa. Se a infraestrutura do País fosse futuramente receber tanto investimento como o governo propagada e se o empresário se tornasse tão moderno como ele mesmo julga, o motor dianteiro se ateria às exceções, como áreas de difícil tráfego natural, quando as condições independem dos investimentos, como trajetos de relevos muito acentuados. Caso contrário, o Brasil poderia viver uma realidade como de outras países, onde ônibus de piso baixo e motor central não é nem mais propaganda governamental, de empresa e de montadora. É algo natural.
Mas o OF, F ou OD ainda continuarão sendo maioria.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

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