sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Historia: Morubixaba seria para a Pássaro Marron


Ônibus da GM que revolucionou os transportes rodoviários no País e permitiu a liderança da Viação Cometa foi encomendado pela empresa concorrente.
Toda história tem seus marcos e com os transportes não poderia ser diferente.
A memória da mobilidade brasileira tem vários ícones que foram capazes de mudar os rumos. São empreendedores, autoridades públicas, planos econômicos, cidadãos simples e também veículos.
Sem dúvida, entre os veículos, a vinda dos GMPD 4104, os Morubixabas,em 1954, usados pela Viação Cometano importante trajeto Rio – São Paulo não só influenciou a forma de transportar pessoas no Brasil, mas até mesmo a indústria do setor.
Os ônibus eram modernos até para hoje e possuíam conceitos de conforto e segurança ainda não encontrados em todos os ônibus rodoviários atualmente.
Quando a Cometa operou os veículos pode-se dizer que inaugurou uma nova era que chamou tanto a atenção dos passageiros que consolidou sua liderança.
O que muitos não sabem é que o desembarque dos Morubixaba no Brasil ocorreu por iniciativa de outra empresa de ônibus, concorrente da Viação Cometa na linha Rio –São Paulo, a Pássaro Marron.
É o que revela o livro “Sonhos sobre Rodas”, de Antônio Rúbio de Barros Gômara (in Memorian) e do jornalista Nélio Lima, publicado pela Abrati – Associação Brasileira das Empresas de Transportes Terrestres de Passageiros.
Morubixaba, O GM importado dos EUA, foi o modelo responsável por proporcionar uma nova fase na história dos transportes e também da indústria de ônibus no Brasil. Veículos se destacaram e atribuíram a liderança à Viação Cometa no trajeto Rio – São Paulo, mas na verdade, deveriam ser usados pela Pássaro Marron, que os encomendou. Foto: Denir L. Camargo.
Morubixaba, O GM importado dos EUA, foi o modelo responsável por proporcionar uma nova fase na história dos transportes e também da indústria de ônibus no Brasil. Veículos se destacaram e atribuíram a liderança à Viação Cometa no trajeto Rio – São Paulo, mas na verdade, deveriam ser usados pela Pássaro Marron, que os encomendou. Foto: Denir L. Camargo.
O fato pode ser conhecido de pesquisadores sobre o assunto, mas nem todos sabem, por isso, é bom falar um pouco sobre ele, preservando, no entanto, a vontade de adquirir e ler o livro para mais detalhes deste e de outros episódios históricos sobre os transportes.
Quando se fala em proteção da produção nacional, logo se pensa em Juscelino Kubitscheck, o que é verdade. Mas o nacionalismo, se é assim que se pode dizer, é de antes, do governo Getúlio Vargas.
Já nesta época, o governo queria equilibrar a balança comercial e, para importar algo era necessária uma licença.
Essa licença só sairia se por acaso, o Brasil conseguisse vender uma grande quantidade de produtos no exterior, podendo ser de outros setores.
E foi o que ocorreu. O IRGA – Instituto Riograndense do Arroz conseguiu vender uma grande quantidade do produto no exterior. Isso abriu a possibilidade de vários setores tentarem comprar produtos de fora.
Foi aí, para incrementar sua linha Rio – São Paulo, que o dono da Pássaro Marron, Affonso José Teixeira, pediu e conseguiu a liberação de 50 ônibus feitos nos Estados Unidos: Eram 20 ACF Brill e 30 GMPD, os Morubixaba, como eram chamados no Brasil.
Junto com Affonso, Rúbio Gômara, um dos autores do livro e advogado especializado em transportes, foi para os Estados Unidos negociar a compra dos veículos.
Os financiamentos seriam feitos pelo Eximbank, mas ao verem os valores e condições, os responsáveis pela Pássaro Marron constataram que seria um compromisso muito grande e perigoso de ser assumido.
Para não perder a licença de importação, Affonso Teixeira procurou seus dois concorrentes para saber se eles estariam interessados na compra dos ônibus: o major Tito Mascioli, dono da Viação Cometa, e Manoel Diegues, do Expresso Brasileiro Viação Ltda.
Quem também esteve a frente das negociações foi o então Diretor do Departamento Jurídico da Pássaro Marron, Raul Ferreira da Costa, genro de Affonso Teixeira.
Ele contou que Manoel Diegues, do Expresso Brasileiro, estava na expectativa da liberação de outro pedido de importação de ônibus, que acabou não ocorrendo. Já Tito Mascioli, da Cometa, assumiu os 30 GMPD.
O fato mudou a configuração dos transportes brasileiros, segundo o então diretor da Pássaro Marron, Mário João Nigro.
Na época que a indústria de ônibus brasileira praticamente não fazia ônibus rodoviários, apenas veículos simples que recebiam poltronas e configurações internas um pouco melhores, ter um ônibus como o Morubixaba seria se antecipar e muito aos demais.
A Pássaro Marron não teve condições de assumir os veículos. Manoel Diegues, que só tempos depois adquiriu os 20 ACF Brill, não quis no momento,e a Cometa comprou e liderou a que ainda hoje é a principal linha rodoviária do País, apesar do crescimento da aviação.
O GMPD Coach foi lançado oficialmente em 1953 pela Divisão de Ônibus e Caminhões da GM em Michigan, Estados Unidos, mas já tinham sido feitas unidades antes.
O veículo tinha 41 poltronas, todas alinhadas às janelas para o passageiro não ficar de cara com a coluna de separação entre elas, vidros Ray-ban, para proteger da forte incidência da luz solar, suspensão a ar e motor de 211 cavalos, diesel.
O design chamava a atenção. Com chapeamento de alumínio, a carroceria tinha desenho arredondado e rebitada, o que passava a impressão de robustez e velocidade.
A Cometa tinha a versão de 37 lugares para oferecer mais conforto.
O nome Morubixaba, que a grosso modo significa chefe da tribo, foi apropriado. Seu design passava força e por conta dele a Cometa liderou.
O modelo, no entanto, se não fosse a condição financeira da época, deveria prestar serviços pela Pássaro Marron, que anos depois do episódio deixou de operar a lucrativa linha.
Para manter o sucesso obtido com o Morubixaba, mas não podendo mais importar veículos por causa da política de incentivo à indústria nacional, foi que a Cometa desenvolveu, inspirada no modelo, junto com a encarroçadora Ciferal, o Turbo Jumbo, e posteriormente, o Dinossauro, que depois da falência da Ciferal, foi continuado pela CMA – Companhia Manufatureira Auxiliadora (da própria Cometa) com o nome Flecha Azul.
Adamo Bazanijornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

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