domingo, 16 de dezembro de 2012

Precisa mais gente morrer?


Ataques a ônibus são a forma mais covarde de o crime dizer quer tem poder. E não adianta o Governo do Estado falar que a imprensa é sensacionalista.
ADAMO BAZANI – CBN
Precisa mais gente morrer para que a polícia tenha competência para evitar os ataques a ônibus? Pelo histórico das ações, os ônibus são queimados sempre onde ocorre entrevero entre policiais e bandidos. Assim, não é necessário ter um super serviço de inteligência para reforçar a segurança em linhas e terminais onde ocorreram os mais recentes embates. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
Precisa mais gente morrer para que a polícia tenha competência para evitar os ataques a ônibus? Pelo histórico das ações, os ônibus são queimados sempre onde ocorre entrevero entre policiais e bandidos. Assim, não é necessário ter um super serviço de inteligência para reforçar a segurança em linhas e terminais onde ocorreram os mais recentes embates. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
Não adianta o Governo do Estado de São Paulo culpar a imprensa pela sensação de insegurança vivida pela população.
Tiroteios, homicídios, chacinas, morte de policiais e ônibus incendiados são imagens cada vez mais comuns nos noticiários.
Mas não são os jornais que as criam, são os criminosos mesmo que não só desafiam, mas que infelizmente, humilham as autoridades de segurança do Estado.
Neste domingo, 09 de dezembro, o abuso da criminalidade chegou a um dos seus ápices na onda (e é onda mesmo) de incêndio a ônibus no Estado de São Paulo.
Na madrugada, duas pessoas morreram carbonizadas dentro de um veículo da Viação Sambaíba, que fazia a linha 2182 (Jardim Brasil – Praça do Correio). O ônibus estava parado no ponto final, quando, segundo testemunhas, foi atacado por 20 criminosos.
A frieza, falta de humanidade e certeza de impunidade foram tão grandes, que os bandidos não deram sequer tempo para os passageiros saírem do ônibus.
Por volta das 11 horas da manhã do mesmo domingo, também na zona Norte de São Paulo, perto do local do ataque, outro ônibus da Viação Sambaíba foi incendiado, sem feridos.
Os ataques seriam represálias à morte de um jovem e ferimentos a tiros em outro que supostamente teriam trocado tiros com a polícia.
A Polícia Militar informou que os jovens tinham antecedentes criminais e que apreendeu duas armas que estariam com eles: uma pistola e um revólver.
Se a polícia está certa ou não, se houve abuso dos PMs ou se os jovens são bandidos, a pergunta que os “Direitos Humanos” não fazem é: O que os dois passageiros mortos têm a ver com isso?
Aliás,quando há entrevero entre policiais e bandidos sempre acaba sobrando para passageiros, motoristas, cobradores e empresas.
Assim, pelo histórico dos ataques, não é necessário ter um mega serviço de Inteligência para saber que onde teve tiroteio, o policiamento em terminais, pontos finas e nos itinerários das linhas de ônibus deve ser reforçado.
O mais frustrante é que o incêndio a ônibus é um crime que pode atingir a qualquer um de nós em qualquer momento.
É a briga entre polícia e criminosos na qual o cidadão que é o escudo e alvo.
Os motoristas, cobradores e fiscais trabalham com medo e os passageiros ficam a mercê dos bandidos.
E não venham as autoridades de Segurança Pública tentar dizer que a imprensa está glamourizando o PCC – Primeiro Comando da Capital, facção criminosa que atua dentro e fora de presídios, e dar a explicação de que muitos ataques foram isolados e que não têm relação com o crime organizado.
O que importa para a sociedade é que isolados ou não, sendo todos do PCC ou não, os ataques continuam ocorrendo.
Tentar minimizar estes fatos ao tentar mostrar que “o crime organizado não é tão forte como a imprensa diz”, discurso ainda recorrente entre as autoridades, é o mesmo que dizer para as famílias destes passageiros carbonizados neste domingo que: “Não se preocupe, seu parente morreu carbonizado, mas fique sossegado, não foi o crime organizado”.
A inteligência da Polícia deve sim descobrir e investigar o que é PCC e o que é “ação isolada” nestes ataques. Mas isso para os passageiros, trabalhadores nos transportes e empresas de ônibus é o que menos importa! O importante é ter a certeza de que os casos não irão se repetir! Certeza esta que as polícias não têm competência de dar ao cidadão.
Por conta de nossas reportagens voltadas para os transportes, no Blog Ponto de Ônibus (http://blogpontodeonibus.wordpress.com/) , nosso contato com motoristas e cobradores de ônibus é praticamente diário.
O medo é real. Os motoristas, que já sofrem o estresse do trânsito e do alto fluxo de passageiros, demonstram tensão quando vão iniciar mais uma jornada. O objetivo: não morrer ou ser ferido pelos bandidos (organizados ou “amadores”).
Em Santo André, no ABC Paulista, alguns motoristas já fizeram uma espécie de kit fuga. Em pochetes ou mesmo sacolas plásticas amarradas ao corpo, eles colocam os documentos pessoais, a carteira de habilitação (sua ferramenta de trabalho) e às vezes os documentos do ônibus, para fugirem logo do veículo sem terem tanto transtorno depois do crime, para tirarem toda documentação de novo.
“Também nos comunicamos direto, com celular ou rádio para sabermos do colega do ônibus a frente se está tudo tranquilo” – disse um dos motoristas de Santo André.
Em relação aos casos deste domingo, sete suspeitos foram detidos, alguns com leves queimaduras, durante a tarde.
As prisões são o mínimo que a polícia pode dar como resposta. Mas o cidadão quer mesmo que os ataques sejam evitados. Ou precisa mais gente morrer para que isso ocorra?
Adamo Bazanijornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

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