terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Transporte fretado também deve ser encarado como solução para mobilidade urbana


Em parceria com a ANTP, Fresp mostra as vantagens deste tipo de serviço e exemplos práticos de como os ônibus fretados podem contribuir para a redução do trânsito e poluição e trazer ganhos na produtividade de empresas e trabalhadores.
ADAMO BAZANI – CBN
Ônibus urbanos, trens e metrô são indispensáveis para a garantia da mobilidade urbana por serem meios de transporte de grande capacidade, podendo substituir vários veículos particulares e diminuírem, assim, o trânsito e a poluição nas cidades. Além disso, o transporte coletivo traz retornos positivos aos cofres públicos, afinal, se perde muita produtividade e dinheiro nos congestionamentos.
O transporte por ônibus fretados também deve fazer parte dos planos de mobilidade urbana. Este tipo de serviço consegue fazer com que as pessoas que dificilmente usariam urbanos ou metrô deixem o carro em casa. Nos EUA, o assunto é tão levado a sério que, mesmo com uma farta rede de metrô, Nova Iorque tem até faixas exclusivas apenas para ônibus fretados. Foto: Poder Público de Nova Iorque
O transporte por ônibus fretados também deve fazer parte dos planos de mobilidade urbana. Este tipo de serviço consegue fazer com que as pessoas que dificilmente usariam urbanos ou metrô deixem o carro em casa. Nos EUA, o assunto é tão levado a sério que, mesmo com uma farta rede de metrô, Nova Iorque tem até faixas exclusivas apenas para ônibus fretados. Foto: Poder Público de Nova Iorque
Mas outra modalidade de transporte coletivo, porém não público, que pode trazer benefícios para o “ir e vir” das pessoas de forma mais inteligente, econômica e racional é o serviço de ônibus fretados.
Um caderno técnico desenvolvido pela Fresp – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo – e pela ANTP – Associação Nacional dos Transportes Público – mostra estas vantagens e exemplos nacionais e internacionais de como o fretamento pode ajudar, às vezes com retorno mais rápido, na diminuição da frota de veículos particulares nas ruas, cujo excesso causa os problemas gerados pelo trânsito e poluição.
Para se ter uma ideia, enquanto cidades como São Paulo pensam que melhorar o trânsito é impedir a circulação de ônibus fretados, que podem tirar de 20 a 40 carros particulares das ruas, em outros locais, a modalidade é incentivada. Isso porque, o passageiro do ônibus fretado é considerado diferenciado e dificilmente largaria seu carro de passeio para se submeter às condições nem sempre confortáveis dos ônibus urbanos, trens e metrô.
E um exemplo de contraste, que é mostrado no caderno “Transporte por Fretamento” é o de São Francisco, Califórnia.
De acordo com o relatório da autoridade de transportes de São Francisco, há uma legislação que determina que empresas a partir de vinte funcionários sejam obrigadas a oferecer alternativas de transportes ao meio individual de deslocamento.
No entanto, diferentemente do que ocorre nas cidades brasileiras, não foi criada uma obrigação e pronto. O departamento fez estudos objetivos para apontar onde os serviços de fretamento seriam mais adequados, para evitar sobreposições com o transporte público e até mesmo integrar o fretamento com o urbano.
Por conta do tamanho de alguns ônibus, que podem levar até 50 passageiros sentados, em algumas regiões em São Francisco há restrição de circulação. Mas esta restrição foi feita com base nas informações de origem e destino dos passageiros e em relação à oferta de transportes urbanos com eficiência.
Os resultados de um estudo da autoridade de transporte de São Francisco mostram que, apesar de aspectos negativos ainda precisarem ser superados, como a concorrência com os carros no espaço urbano, as vantagens do serviço de fretamento são grandes.
Enquanto um carro de passeio anda com um quinto de ocupação, normalmente só com o motorista, a taxa de ocupação de um ônibus fretado pode ser total, chegando a 100% dos lugares. E quanto maior a lotação dos fretados, menos carros nas ruas. Quando se fala em lotação em fretado, é a chamada lotação de banco. Ninguém costuma ir em pé.
O estudo mostra que 63% dos entrevistados disseram que se não fossem servidos pelos ônibus fretados, estariam nos carros particulares. Segundo a autoridade de trânsito de São Francisco, os fretados impediram 327 mil deslocamentos de carros com um único ocupante num período de um ano.
Isso significa menos poluição. A maior quantidade de pessoas nos serviços de ônibus fretados, segundo o levantamento, foi responsável pela redução de até 9 mil 500 toneladas de gás carbônico emitidos no ar.

FAIXA PARA ÔNIBUS FRETADO

Já em Nova Iorque, mesmo com a extensa e tão propagada rede de metrôs e de ônibus urbanos, a cidade oferece 2,5 mil milhas de faixas exclusivas no contra-fluxo só para ônibus fretados.
Isso mesmo, faixas exclusivas para ônibus fretados! A lógica da cidade é que estes veículos podem retirar até 50 carros de passeio das ruas ocupando o espaço de três.
Por maior que seja a rede de metrô de Nova Iorque, ela não consegue atender a todas as necessidades de deslocamento. Daí a iniciativa da faixa.
Assim, foi decidido que seria inteligente priorizar na área urbana o veículo que transporta mais e ocupa menos espaço. Algo tão óbvio que infelizmente parece que ainda não foi assimilado no Brasil.
Essa faixa leva ao túnel Lincoln que atravessa Manhattan. Estima-se que Nova Iorque possua 9 mil ônibus fretados que transportam em média 315 mil passageiros por dia que cruzam o Rio Hudson.
Somente a faixa XBL – Express Bus Lane atende a 63 mil passageiros em 1900 ônibus fretados apenas no pico da manhã, o que segundo a autoridade local, representa quase metade das pessoas que se deslocam na direção do túnel. Esses passageiros sentem o que é prioridade aos transportes coletivos na prática. Ainda segundo o governo de Nova Iorque, o tempo de deslocamento para quem está num fretado é 20 minutos menor no túnel em comparação a quem optou ir de carro sozinho.
Pela manhã, a faixa é implementada entre às 06 h e às 10 h, mas há regulamentações:
  • Ônibus fretados vazios, só em deslocamento para a garagem ou para o ponto de origem, não podem circular pela XBL
  • Antes das 9 h só podem circular ônibus fretados que transportem funcionários para o trabalho. Fretamento de turismo ou receptivo não pode usar o serviço da XBL
  • Os ônibus que trafegam pela faixa devem ser cadastrados num sistema semelhante ao “sem parar” do Brasil, para agilizar a passagem nas praças de pedágios.
  • Ônibus de fretamento não rivaliza com metrô ou ônibus urbano, mas pode complementar estes sistemas.
Devido ao aumento de demanda, no entanto, a autoridade de transportes estuda ampliar o sistema e já identifica alguns gargalos nos serviços.
A estimativa é de que nos próximo 20 anos, o número de passageiros neste tipo de serviço cresça o que deve ser um desafio até mesmo para a implementação de faixas maiores.

O CADERNO

Além de trazer os exemplos internacionais, o caderno da Fresp – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento no Estado de São Paulo e da ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos – mostra os benefícios em cidades brasileiras dos serviços de fretamento organizados.
A coordenadora técnica da ANTP, Valeska Peres, fala das necessidades da integração do fretamento nas Políticas de Mobilidade Urbana. O engenheiro de transportes Eduardo Vasconcellos, explicas os benefícios de mobilidade e ambientais dos serviços de ônibus fretados.
A chefe de Departamento de Transporte Diferenciado da EMDEC – Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas, Ana Barbosa, fala sobre a atuação e regulação dos serviços na cidade do interior paulista. A diretora executiva da Fresp, Regina Rocha, faz uma análise da mobilidade sob um aspecto importante: pela visão de quem contrata os serviços de ônibus de fretamento.
A professora doutora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro traz dados objetivos de como os fretados ajudaram na mobilidade da região metropolitana do Rio.
Segundo o Estudo da Evolução da Frota no Rio de Janeiro mostra que entre 2016 e 2020 haverá um carro para cada dois moradores na capital fluminense. Assim, a atual frota de 1 milhão 867 mil veículos no Rio de Janeiro pode chegar a três milhões em oito anos.
Além de empresas, condomínios residenciais contam com moradores que se organizaram e identificaram que muitos deles saíam praticamente nos mesmos horários e iam para destinos próximos. Foram contratados ônibus fretados, o que trouxe vantagens de deslocamento e economia para os passageiros/moradores.
“O Rio2 (um dos condomínios) é um oásis. É muito legal mesmo. Mas a grande vantagem aqui é o ônibus. Com ele, você se desloca sem ter de pegar o carro e ainda observa toda a vista da Barra da Tijuca. Excelente!” – disse no caderno o morador, fotógrafo e artista plástico, Cláudio Guedes.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

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