segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Cordeiro dispensa funcionários após paralisação por salários

Ônibus da Cordeiro na garagem
Ônibus da Cordeiro na garagem / Genilson Pessanha

Funcionários da Auto Viação Cordeiro disseram, na manhã desta quinta-feira (20), que foram dispensados pela empresa, nessa quarta (19), logo após retornarem da paralisação de duas horas, feita para cobrar um posicionamento da empresa sobre os salários atrasados e futuros. A empresa alegou que, com a paralisação, teria perdido as linhas de Dores de Macabu e Ponta da Lama, o que impossibilitaria, além da continuidade dos serviços da empresa, o pagamento do vale desta semana. O Sindicato dos Rodoviários disse que já comunicou a situação ao Ministério Público do Trabalho e que os advogados da entidade já estão juntando documentos para requerer os direitos dos funcionários.
De acordo com informações de um funcionário, que atua há mais de 10 anos na Cordeiro e não quis se identificar temendo represálias, todos estavam recebendo 70% do salário pelo governo Federal e os 30% restantes da empresa. O contrato teria terminado na última sexta (14) e a empresa não teria se posicionado aos trabalhadores sobre como ficaria a situação.
Após o término da paralisação, considerada legal pelo sindicato, os funcionários retornaram à garagem, onde teriam sido recebidos por representantes e advogados que os informaram a dispensa e a suspensão do vale desta semana, sob alegação de que a empresa teria tido as linhas que executa, retiradas pelo Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT). O órgão, no entanto, informou ontem que apenas as linhas de Dores de Macabu e Ponta da Lama, pertencentes à Rogil, dentro do Consórcio União, teriam sido assumidas pela empresa titular, imediatamente após a paralisação dos funcionários da Cordeiro.
Os funcionários alegam, no entanto que a empresa, além das linhas de Dores de Macabu e Ponta da Lama, faz também as linhas Circular Uenf e São Pedro.
O vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, Davi Lopes, disse que o órgão já está tomando providências.
— Estivemos na garagem da empresa hoje de manhã e estava fechado. Ficamos sabendo da situação pelos funcionários. Já comunicamos ao Ministério e nossos advogados já estão juntando documentos para tomar as providências — Explicou, acrescentando ainda que a empresa deve salários de 2018 e do ano passado.
Socio-proprietário da Auto Viação Cordeiro, Edson Cordeiro disse que não há mais condições da empresa operar.
— As linhas da Uenf, São Pedro e Circular, são pertencentes ao Consórcio, são as linhas que hoje, devido à pandemia, estão em baixo rendimento e a de Dores, que estava dando ainda alguma sustentação, com a paralisação, a Rogil Transportes, dona da linha, nós estávamos fazendo em acordo, assumiu. Não dá mais para a gente voltar trabalhando porque não há rendimento e a empresa não tem sustentação para isso — explicou.
Edson disse ainda que ainda não sabe como vai ficar a situação dos funcionários. “A gente já estava devendo a eles, mas bastava eles entrarem na justiça, mesmo trabalhando e a gente continuava trabalhando e pagando a eles o que podia, mas não houve acordo. Eles fizeram uma paralização irregular, sem notificar ao sindicato, comunidade ou ninguém”, acrescentou o proprietário que disse que a paralisação deveria ter sido avisada com 24 horas de antecedência, segundo informações do seu jurídico.
Ele revelou que as linhas pertencem à Rogil que, uma vez assumindo o serviço durante a paralisação de quarta, não vai mais deixar as linhas. “Ela disse que tem capacidade de assumir, que vai assumir e não devolveu mais para nós”, disse.
O empresário lamentou a situação. “Acho que foi muita precipitação dele. A gente deve, todo mundo deve, mas é preferível entrar na justiça, procurar seus direitos, continuar trabalhando e não prejudicar 88 pessoas, fora as famílias”, pontuou Edson dizendo ainda que todos os funcionários paralisaram as atividades.
Em nota, o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) informou que não se envolve em questões trabalhistas envolvendo empresas e seus respectivos funcionários. Portanto, o órgão não conhece os motivos da paralisação e da manifestação. "Quanto às linhas Dores de Macabu e Ponta da Lama, ambas são pertencentes à empresa Rogil, mas vinham sendo operadas pela Viação Cordeiro. Diante a paralisação de parte dos funcionários da empresa Cordeiro, a Rogil assumiu imediatamente as linhas para não comprometer o serviço de transporte público nas respectivas regiões. Vale ressaltar que a Viação Cordeiro não é uma concessionária do transporte coletivo, mas uma integrante do Consórcio União, composto ainda por outras três empresas", dizia a nota.
A paralisação - Os funcionários da Auto Viação Cordeiro paralisaram suas atividades, nesta quarta (19), devido ao atraso no pagamento de salários. Um funcionário da Cordeiro há dez anos, que preferiu não se identificar, relatou que a empresa não consegue honrar com os pagamentos desde 2018 e que 80 funcionários passam pela situação. “Tem colegas que ficaram sem receber cinco salários em 2018 e até hoje não viram a cor do dinheiro. Agora, em 2020, também tem valores pendentes. Desde abril, por conta da pandemia, estávamos recebendo 70% dos salários pelo governo federal, cabendo à empresa custear o restante. Mas ela pagava R$ 80 por semana, o que não chegava aos 30%. Ontem, ofereceram pagar a gente 50% dos salários, todo mês, mas, assim, receberíamos um valor muito pequeno. Teve gente que recebeu apenas R$ 500. Ainda assim permanecemos trabalhando”, disse.
O funcionário destacou, ainda, que após cinco horas de paralisação, o IMTT suspendeu as atividades da linha à Cordeiro, que liberou os funcionários e fechou as portas. Diante do impasse, o grupo se reúne na sede do Sindicato dos Rodoviários. “Cruzamos os braços para brigar por nossos direitos. Funcionários de outras empresas já ficaram dois ou três dias sem trabalhar e a empresa não perdeu a linha. Uma situação injusta”, finalizou.


 

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