sexta-feira, 19 de julho de 2013

Novos nomes para velhos problemas

Prática de mudança de nomes por parte de empresas de ônibus em São Paulo e no ABC Paulista é estratégia para operar com irregularidades.
ADAMO BAZANI – CBN
Ônibus que atualmente serve o Esporte Clube Santo André,que já foi presidido por Ronan Maria Pinto. Veículo serviu às empresas dele que ao lado do concunhado e a parceiro de negócios, Baltazar José Sousa, tem o hábito de mudar os nomes das empresas como estratégia para participar de licitações. Foto: Adamo Bazani.
Ônibus que atualmente serve o Esporte Clube Santo André,que já foi presidido por Ronan Maria Pinto. Veículo serviu às empresas dele que ao lado do concunhado e a parceiro de negócios, Baltazar José Sousa, tem o hábito de mudar os nomes das empresas como estratégia para participar de licitações. Foto: Adamo Bazani.
Imagine uma pessoa que se chama José da Silva. Ele está cheio de dívidas, com nome no SPC, título de eleitor vencido, procurado pela Justiça, em resumo, com o nome sujo. Mas repentinamente, ele muda o nome para João da Silva e grande parte de seus problemas está resolvida.
Algo que é impossível para pessoas físicas, é uma prática muito comum entre os empresários de ônibus que é de conhecimento das autoridades mas que a população não sabe é trocar o nome de suas companhias problemáticas e conseguir continuar operando.
Somente nesta quinta-feira, após a greve de ônibus na Zona Leste de São Paulo é que ficou conhecido o nome Empresa de Transportes Itaquera Brasil S. A. A empresa nada mais nada menos é a Viação Novo Horizonte, considerada a pior companhia da cidade de São Paulo pela SPTrans e que é alvo de processos, inclusive pelo Ministério Público Estadual por má prestação de serviços e suspeitas de confusão jurídica, enriquecimento ilícito dos diretores e desvios de verbas públicas.
Happy Play, do mesmo Consórcio Leste 4, que já recebia repasses de verbas da prefeitura de São Paulo, sem ter nenhum ônibus, depois da intervenção do Ministério Público, teve ônibus pintados em seu nome.
No ABC Paulista, a prática é exatamente igual. Muita gente pensa que está usando os serviços de uma empresa nova, mas os donos das companhias são os velhos barões dos transportes.
Aliás, a prática é tão descarada que tanto no ABC Paulista como na Capital (em outras cidades também) o que só muda mesmo é o nome: funcionários, garagens, direção e até os ônibus são os mesmos. Às vezes a pintura recebe uns retoquezinhos.
As licitações não permitem que empresas com altos débitos trabalhistas e fiscais, além das que são alvos de investigação até por crimes, participem das disputas para continuarem nos sistemas.
Mas em vez de o poder público impedir a permanência destes maus empresários, aceita que os novos nomes de empresas apareçam, apesar de não haver mudança nenhuma. E o melhor para estes empresários: mudando de nome, suas dívidas e problemas antigos deixam de se acumular.
E como eles fazem isso? Abrindo empresas de gaveta. Para eles, abrir uma empresa de ônibus é mais fácil que o cidadão comprar um misto quente no bar.
A empresa é aberta e fica paradinha. Quando há uma nova licitação ou alguma ameaça de descredenciamento, esta empresa é retirada da gaveta e substitui a viação podre.
Assim foi em Santo André em 2008, por exemplo, na polêmica licitação na qual a empresa de Mogi das Cruzes, Júlio Simões, ofereceu repasses à prefeitura quatro vezes maior que a concorrente Consórcio União Santo André, mas mesmo assim foi desclassificada por critérios técnicos que ainda deixam dúvidas.
Na ocasião, Empresa Auto Ônibus Circular Humaitá, de Ronan Maria Pinto, já tinha se transformado emViação GuaianazesENSA – Expresso Nova Santo André, também de Ronan, dono do jornal Diário do Grande ABC, com outros empresários, virou ETURSA – Empresa de Transportes Urbanos Rodoviários de Santo André e a Viação São Camilo, de Baltazar José de Sousa, virou EUSA – Empresa Urbana Santo André. Ela continua com este nome nas linhas intermunicipais porque não houve licitação na área 5 da EMTU.
Já a Viação Vaz, em Santo André, surgiu em 2002, com nova diretoria, mas ocupando as instalações daViação Padroeira do Brasil, que era de Baltazar com a família Romano.
Em Mauá, a Viação Cidade de Mauá é a mesma coisa que a problemática Viação Barão de Mauá. Se aLeblon, empresa que não pertence aos empresários antigos do ABC, não tivesse vencido o lote 02, a Viação Januária hoje se chamaria TransMauá ou Viação Estrela de Mauá, criadas pro Baltazar para licitações.
Em Rio Grande da Serra, hoje a empresa Talismã é do mesmo grupo da Pérola da Serra, que teve suspeitas de envolvimento até mesmo em crimes contra prefeitos que foram assassinados.
Algumas empresas mudam de nome porque de fato mudaram a direção. O nome Publix é relativamente novo. A empresa opera as linhas intermunicipais que eram de Ronan Maria Pinto, da Empresa Auto Ônibus Circular Humaitá e Inter-Bus. A Publix é da família Setti Braga, a mesma que controla a SBCTrans em São Bernardo do Campo, a Auto Viação ABC e os ônibus e trólebus da Metra.
A família costuma manter os nomes das empresas. A Viação ABC tem esta denominação desde 1956. O mesmo ocorre com a TCPN – Transportes Coletivos Parque das Nações, de Santo André, de Carlos Sófio. A empresa também mantém o nome desde 1956 e, apesar das pressões financeiras por ser uma companhia pequena e sofrer e muito por causa dos empresários maiores, consegue permanecer com a situação regular.
Mas de uma maneira geral, os empresários continuam os mesmos, com empresas de nomes novos, mas práticas antigas. E, na brecha da lei, o poder público faz de conta que é moral e normal.
Adamo Bazanijornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

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