quarta-feira, 5 de junho de 2013

OMS liga transporte coletivo à saúde

De acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde, mobilidade urbana interfere em aspectos como qualidade do ar, estresse e até mesmo em questões como sedentarismo e obesidade. Ônibus, metrô e bicicletas devem receber mais incentivos.
ADAMO BAZANI – CBN
rganização Mundial da Saúde analisou cerca de trezentos estudos que estabeleceram relações claras entre saúde e transportes coletivos. Além da redução dos problemas ocasionados pela poluição, uma rede de mobilidade pode interferir em fatores como estresse, obesidade, sedentarismo e mortes no trânsito. Foto: Eole99 via Wikimedia Commons.
Organização Mundial da Saúde analisou cerca de trezentos estudos que estabeleceram relações claras entre saúde e transportes coletivos. Além da redução dos problemas ocasionados pela poluição, uma rede de mobilidade pode interferir em fatores como estresse, obesidade, sedentarismo e mortes no trânsito. Foto: Trans Val de Marne, Créteil, França. Eole99 via Wikimedia Commons.
É de conhecimento de todos que um sistema de mobilidade urbana que privilegie os transportes coletivos, com redes de corredores de ônibus e metrô, e o uso de bicicletas, traz inúmeras vantagens em diversos aspectos, como a garantia do direito de ir e vir, menores gastos públicos em várias áreas e mais qualidade de vida com a redução do trânsito e da poluição.
Mas é possível dimensionar esses ganhos trazidos pelos transportes públicos e as bicicletas às pessoas?
A OMS – Organização Mundial da Saúde realizou levantamentos que mostram que o transporte coletivo vai além dos benefícios de reduzir problemas como os gerados pela poluição. Os trabalhos, coordenados pelo Dr. Carlos Dora, um dos mais conceituados do planeta quando o assunto é qualidade de vida nas cidades, revelam que uma rede de transportes públicos e de ciclovias eficientes interfere em muito mais áreas da saúde do que se imaginava e pode também ajudar no combate a problemas como estresse, sedentarismo e obesidade, que custam milhões de vidas por ano.
Coordenador de Ambientes Saudáveis da OMS para Departamentos de Saúde, Carlos Dora, usou os dados de mais de 300 estudos mundiais sobre saúde, mobilidade urbana, planejamento e gestão urbana, urbanismo e arquitetura.
Foi possível estabelecer relações incríveis que mostram que transporte coletivo priorizado não é apenas uma necessidade urbana e sim uma necessidade humana.
De acordo com as revisões sobre os cerca de 300 estudos, os transportes coletivos são importantes para a saúde pública por uma série de fatores. Vários problemas poderiam ser reduzidos de maneira significativa com menos carros nas ruas para deslocamentos cotidianos e redes maiores e mais eficientes metroferroviárias e de ônibus.
ACIDENTES: Por ano, a OMS calcula que 1,2 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito. O número pode ser reduzido toda vez que um corredor de ônibus é construído e as pessoas optam por deixar o carro em casa. Quanto mais corredores, menos carros e menos acidentes, de acordo com o órgão internacional.
INATIVIDADE FÍSICA E OBESIDADE: Quem anda de transporte coletivo gasta por dia em média 350 calorias a mais em comparação com quem faz o mesmo percurso de carro. A OMS aponta que por ano, devido a problemas agravados pela inatividade física, como diabetes e hipertensão arterial, 19 milhões de pessoas morrem. Cerca de 3,2 milhões estavam aparentemente saudáveis e apresentavam poucos sintomas, mas não caminhavam, não pedalavam e só faziam atividades físicas esporadicamente. Segundo os estudos, estas 350 calorias gastas por dia a mais poderiam fazer muita diferença no ano.
POLUIÇÃO DO AR: A OMS relevou que anualmente, 2 milhões de pessoas morrem por causa da poluição do ar. Em todo o mundo, a frota de automóveis é responsável por 68% dos poluentes na atmosfera. Se forem consideradas as áreas urbanas, os automóveis são responsáveis por 90% da poluição do ar. Se o cidadão tiver à disposição ônibus e metrôs eficientes e com custo de passagem acessível, para ele vai ser mais vantajoso deixar o carro em casa, o que vai impactar diretamente nestes altos índices de poluição. Mas analisando ainda os cerca de 300 estudos, Dr. Carlos Dora diz que as políticas públicas em todo o mundo precisam de fato levar os transportes coletivos e o deslocamento por bicicleta a sério: De 2002 a 2004, 66% dos empréstimos do Banco Mundial para intervenções relacionadas a transportes foram para construções de vias ou rodovias voltadas para o trânsito comum. A minoria dos recursos foi para corredores do ônibus, metrô e ciclovias que ofereçam de fato segurança a quem opta por se deslocar de bicicleta.
Outro dado importante é sobre o “tipo de poluição”. Os elementos mais perigosos no ar são as Partículas PM 10, mais presentes na queima de combustíveis de carros de passeio que de ônibus e caminhões. As PM 10 são as que medem 10 micrômetros ou menos. Elas entram no corpo humano e invadem a corrente sanguinea de forma muito fácil e rápida e podem provocar males como asma, bronquite, infecções respiratórias inferiores, doenças cardíacas e câncer no pulmão. A OMS orienta que o índice suportável, na média anual, de PM 10 no ar é de 20 microgramas por metro cúbico. Mas nas metrópoles, o que inclui Nova Iorque, Cidade do México e São Paulo, este índice anual alcançou a 300 microgramas por metrô cúbico.
E o número mais alarmante vem agora: Das 2 milhões de pessoas que morrem por ano por causa da poluição, 1,34 milhões são mortes prematuras. E o mais importante ainda: deste total, ainda de acordo com a OMS, 1,09 milhões de mortes poderiam ser evitadas, se os parâmetros estabelecidos pela Organização fossem seguidos.
Um sistema de transporte público, como o BRT – Bus Rapid Transit – pode gerar redução na poluição do local onde é instalado pois pode ter como resultado menos congestionamentos, menos pessoas usando carros” – disse o Dr. Carlos Dora.
Adamo Bazanijornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

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